Você que perdeu 2 minutos do seu valioso tempo para aturar as minhas divagações, imagine o seguinte cenário meramente hipotético. Ao deambular descontraído num momento de lazer é abordado por um transeunte, bem vestido e de boa aparência, que lhe põe a seguinte questão:
- O senhor é saudável?
Estranha a pergunta mas balbucia um – tanto quanto sei sim.
- E os seus rins…funcionam bem?
Num misto de surpresa e algum embaraço verifica se não está a ser filmado para os apanhados e responde a medo – sim.
- Pois…é que os meus não. Padeço de um mal nestes órgãos que temo me leve à morte caso não receba um transplante. O senhor importa-se de me doar um dos seus? Se é saudável viverá certamente com grande qualidade só com um rim e salva-me a vida.
Bom…abandone-mos o cenário hipotético porque certamente já perceberam onde quero chegar. O ser humano nunca dá nada. Na melhor das hipóteses troca. Quanto mais não seja troca pela sensação de bem estar e serenidade que o acto de dar proporciona…mas troca sempre. Está bom de ver que alguém só daria um passo como o que supra referi se em causa estivesse um familiar muito próximo, de tal forma, que ao ser confrontado com a eminência da perda e o sofrimento que tal provocaria, a dádiva não pareceria absurda como seria se de um perfeito estranho se tratasse…ainda que os dois fossem seres humanos com o mesmo direito à vida.
O mais certo seria até que o seu cérebro fosse inundado com justificações automáticas para suportar uma decisão aparentemente óbvia, do género:
- A família dele que o ajude
- Deu cabo do rim com a má vida e agora quer que eu lhe resolva o problema
- Ou … que absurdo…não posso dar rins a toda a gente que necessita
Bom…antes que me comecem a invectivar pela carga de asneiras gostaria de dizer que esta metáfora anatomo-fisiológica pretende ilustrar o que penso sobre a situação actual da Europa.
Achar que a Europa, nos moldes actuais de integração, se vai unir e vai conseguir resolver os problemas dos Estados periféricos em apuros, é tão utópico como achar que alguém só pelo facto de ser Português me vai oferecer um rim se eu precisar dele. Não vai!
E nós vamos andando por aqui entretidos a enviar sacos de lixo à Moodys, quando deveríamos de discutir a solução definitiva do problema. E para mim a solução passa única e exclusivamente pelo federalismo Europeu. Uma união política que se sobreponha à União Monetária. Só como um todo a Europa reagirá à agressão de uma das partes…e nunca como uma soma de partes. Mau grado as bem intencionadas (ou enganadoras) declarações dos nossos lideres.
Claro que para isto acontecer teríamos que mexer na sacrossanta soberania nacional. Conseguem imaginar um líder político que conseguisse apresentar com desassombro ao país, um plano de integração federal? Pois eu também não!
Pobres mas Soberanos dizem…
Pois o que eu digo é simplesmente isto: Prefiro mil vezes transferir alguma soberania de forma negociada, transparente e em prol do bem comum do que, de forma encapotada, ser-me usurpada toda a soberania em benefício de poucos…e isso meus amigos é o que está a acontecer agora.